segunda-feira, 15 de março de 2010

Recém-formada criou método de ensinar biologia a deficientes visuais. Para fazer o material didático, ela usa diversos apetrechos do dia a dia.


Em dezembro do ano passado, o Alô, Professor publicou matéria sobre a inclusão de deficientes visuais em aulas de física. O título era 'Física na ponta dos dedos', No final do texto, lançamos a questão: 'material de inclusão para cegos já existe [...]. A pergunta é – como fazer agora para incluir os educadores nessa jornada?".
Material de inclusão para cegos já existe. A pergunta é: como fazer agora para incluir os educadores nessa jornada?
Pois bem, no início deste mês de fevereiro chegou a seguinte mensagem na redação: “[...] Li a reportagem ‘Física na ponta dos dedos’ e gostaria de dar ciência que também [...] produzi um material tátil sobre 'síntese de proteínas para alunos cegos do Ensino Médio [...]'".
Soou, de certo modo, como uma resposta indireta ao nosso questionamento. Então há mais pessoas produzindo material para deficientes visuais do que pensávamos? E muito mais próximas de nós do que pensávamos... E é gente jovem. A remetente: Bianca Navarro, 28 anos, recém-formada em biologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), no Rio de Janeiro.

Não é coincidência que Bianca tenha estagiado no Pedro II (RJ), colégio que já desenvolve programas de inclusão, como mostramos na reportagem anterior. Por lá, Bianca tomou contato com o braile e com o ensino para cegos. Logo, estava também envolvida com o Instituto Benjamin Constant, especialista em lidar com deficientes visuais. No Instituto, ela aperfeiçoou a técnica de produzir material didático de biologia com película de PVC e matrizes que simulam organismos celulares (nesta parte, Bianca ‘brinca’ com miçangas, elásticos, linhas etc.). A impressão na película de PVC é feita e o material ganha o relevo desenhado pelas mãos e e pela criatividade de Bianca.
– A primeira vez em que entrei numa sala com cegos tomei um susto. É difícil ensinar e explicar, por exemplo, que uma substância é mais ‘concentrada’ que a outra. Estes conceitos são abstratos até mesmo para videntes, imagina para quem não vê – conta Bianca, que deu a entrevista na casa dos pais, onde mora.
A monografia de final de curso de Bianca na faculdade foi exatamente sobre o tema. A bióloga quer aprofundar no mestrado a técnica de inclusão precursora que ajudou a criar. Até então, não se trabalhava em aulas de biologia desta maneira.
– Busco contornos simples, linhas e relevos fáceis de compreender. Percebi que se o material tiver muitos detalhes, muitas informações, o aluno cego acaba se perdendo na leitura.

Bianca atualmente dá aula em uma escola na Ilha do Governador (RJ), mas ainda não conseguiu aplicar seu método inclusivo no lugar. A proposta é de que na volta às aulas – finalmente – o material seja usado. Até lá, ela afirma, diante de pais visivelmente ‘corujas’, que consegue ver a alegria dos alunos cegos quando um professor prepara uma aula voltada a eles.
– Os alunos com deficiência visual ficam muito orgulhosos e lisonjeados pelo fato de o professor ter se dado o trabalho e se dedicado para produzir um material voltado especialmente para quem não pode enxergar.
Bianca também parece ter orgulho do seu material. Dá para sentir no olhar.

Por Silvane Soares

Fonte: ciência hoje on-line

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